domingo, 3 de abril de 2016

Uma resenha sobre o texto de A. O. Ross, “O que é aprendizagem?”


     Ross trata, em maior parte de seu texto, sobre o “distúrbio de aprendizagem” (incapacidade de aprender). Mas o que se pode entender como aprendizagem? Aprendizagem no dicionário é a aquisição de conhecimento ou habilidade. Aprendizagem é um conceito, uma abstração, algo não físico e que não podemos apontar ou ver. Por consequente, determinar se alguém aprendeu algo é difícil e é ainda mais difícil comprovar que alguém não aprendeu determinada coisa. Aprendizagem é um processo de mudança ao longo do tempo, é possível percebê-la não em seu processo, mas em seu resultado.
     Testes de aprendizagem são complicados. Uma criança pode não querer responder a perguntas, ou não as entender, ou simplesmente omitir respostas corretas às perguntas. Ou seja, em um teste de aprendizagem, o simples fato de alguém não dizer uma resposta correta não significa que essa pessoa não saiba a resposta certa para o que está sendo perguntado. Não se pode afirmar tão facilmente que alguém não tem conhecimento de determinada coisa apenas por receber uma resposta equívoca sobre esta coisa. “ A falha em observar algo não significa que ele não exista. Nós poderíamos simplesmente não ter sido hábeis em observá-lo. A falha em demonstrar a aprendizagem não prova que ela não esteja ocorrendo. ”
     Pode-se entrar em uma circularidade para se explicar que alguém aprendeu. ‘Por que ele é capaz de realizar hoje aquilo que era incapaz de realizar ontem?’ ‘Porque ele aprendeu. ’ Nada foi explicado.
     “Antes que se possa tirar qualquer conclusão sobre aprendizagem, deve-se estar certo de se dispor um instrumento de medida válida. ”. Após determinada esta medida realizamos um pré-teste em que perguntamos x coisa para uma criança. Ela se mostra incapaz de responder ou responde erroneamente. Para que se possa dizer que uma aprendizagem ocorreu em um pós-teste é preciso dar a oportunidade a essa criança de adquirir o conhecimento em questão. Uma criança que não tem essa oportunidade e responde corretamente no pós-teste não aprendeu, não existiu aprendizagem, pois não houve uma oportunidade de aprender. Essa criança pode ter ouvido a resposta em algum lugar ou pode ter recordado desse fato que é previamente conhecido por ela (isso não é aprendizagem). “ Se tal oportunidade não estiver presente, mas for detectado um aumento no conhecimento do pré-teste ao pós-teste, não podemos atribuir tal mudança a aprendizagem. ”, “ É mais provável que o pré-teste tenha falhado em nos dar uma estimativa acurada de seu conhecimento real.  ”
     “ Uma criança física ou psicologicamente imatura, uma criança que não tenha tido oportunidade de adquirir conhecimento pré-requisito, ou uma criança cuja linguagem seja diferente da do professor não é uma criança de que se espera que adquira a habilidade ou conhecimento ensinado. Chamar tal criança de incapaz de aprender é ignorar que a oportunidade de adquirir conhecimento ensinado não foi, de fato, oferecida. ”
     Distúrbios de aprendizagem são associados a uma criança quando ela tem dificuldade em acompanhar uma turma que é exposta a um método de ensino padrão. A partir do momento que essa criança é inserida em um método de ensino que se adéqua a sua situação (ensino especializado) ela ainda tem distúrbio de aprendizagem? Os professores devem se adequar às crianças para ensiná-las. Quando dizemos que uma criança tem distúrbio de aprendizagem estamos rotulando-a e isso não lhe trará nenhum benefício. E ao fazer isso, desencadeia-se a profecia auto realizadora: uma criança incapacitada de aprender não terá ajuda de um professor ‘porque ela tem distúrbio de aprendizagem então não adiantará tentar ensiná-la’. “É sempre muito fácil justificar a inabilidade do professor em ensinar uma criança dizendo que a criança tem uma dificuldade de aprendizagem quando, em verdade, a dificuldade não é da criança, mas do professor. ” Os professores, em situações como esta, precisam aplicar outros métodos de ensino que não os convencionais para promover oportunidades de adquirir conhecimento.
     Testes de inteligência dizem medir o nível de inteligência e relacionam isto a potencial de aprendizagem. No entanto, potencial é algo futuro, o que uma criança é capaz de aprender. Testes de inteligência não podem medir potencial, nada pode, eles apenas observam a performance da criança em manifestar bem seus conhecimentos passados, é um teste de desempenho. Pode-se inferir o potencial de uma criança, mas isso pode não ajudá-la no ambiente escolar. Professores que têm em mente o suposto potencial de um aluno agem diferente: se o potencial é alto, esforçam-se mais; se o potencial é baixo, não há tanto esforço.
     “ Uma criança que tenha aprendido pouco no passado obterá um baixo escore em um teste de inteligência e irá – sem mudança nos métodos de ensino – continuar a aprender pouco no futuro. Há uma perigosa armadilha neste relacionamento entre escore em teste e performance escolar, pois se um baixo escore em teste é tomado em seu valor estrito como um preditor de realização escolar futura, pode-se com alta probabilidade classificar a criança como incapaz de aprender (devido à baixa inteligência) encaminhando-a assim a um ambiente acadêmico em que pouco se espera dela. ”
     O que uma criança é capaz de aprender chama-se potencial. Aquilo que a criança realmente aprende chama-se realização. Quando esta criança é submetida à um teste de inteligência e seu escore é baixo (por ter aprendido pouco no passado), infere-se que seu potencial é baixo acompanhado com um baixo nível de realização. “ [...] a discrepância potencial-performance não será manifesta e a performance escolar pobre poderia assim ser atribuída a baixa inteligência da criança e a inabilidade real em aprender seria desconsiderada. Tal uso nada sofisticado de um teste de inteligência resultaria em classificar muitas crianças como ‘burras’ quando na verdade elas são inábeis em aprender, o que pode ser superado pela aplicação de métodos apropriados de ensino. ”

     Enquanto mais rotulamos crianças como incapazes de aprender e mais crianças assim são diagnosticadas com distúrbios de aprendizagem e nada se faz para modificar essa situação, pergunta-se se o “errado” é o método de aprendizagem padrão escolar ou as crianças que não respondem positivamente a ele.