Ross trata, em
maior parte de seu texto, sobre o “distúrbio de aprendizagem” (incapacidade de
aprender). Mas o que se pode entender como aprendizagem? Aprendizagem no
dicionário é a aquisição de conhecimento ou habilidade. Aprendizagem é um
conceito, uma abstração, algo não físico e que não podemos apontar ou ver. Por
consequente, determinar se alguém aprendeu algo é difícil e é ainda mais
difícil comprovar que alguém não aprendeu determinada coisa. Aprendizagem é um
processo de mudança ao longo do tempo, é possível percebê-la não em seu
processo, mas em seu resultado.
Testes de
aprendizagem são complicados. Uma criança pode não querer responder a
perguntas, ou não as entender, ou simplesmente omitir respostas corretas às
perguntas. Ou seja, em um teste de aprendizagem, o simples fato de alguém não
dizer uma resposta correta não significa que essa pessoa não saiba a resposta
certa para o que está sendo perguntado. Não se pode afirmar tão facilmente que
alguém não tem conhecimento de determinada coisa apenas por receber uma
resposta equívoca sobre esta coisa. “ A falha em observar algo não significa
que ele não exista. Nós poderíamos simplesmente não ter sido hábeis em
observá-lo. A falha em demonstrar a aprendizagem não prova que ela não esteja
ocorrendo. ”
Pode-se entrar em
uma circularidade para se explicar que alguém aprendeu. ‘Por que ele é capaz de
realizar hoje aquilo que era incapaz de realizar ontem?’ ‘Porque ele aprendeu.
’ Nada foi explicado.
“Antes que se
possa tirar qualquer conclusão sobre aprendizagem, deve-se estar certo de se
dispor um instrumento de medida válida. ”. Após determinada esta medida
realizamos um pré-teste em que perguntamos x coisa para uma criança. Ela se
mostra incapaz de responder ou responde erroneamente. Para que se possa dizer
que uma aprendizagem ocorreu em um pós-teste é preciso dar a oportunidade a
essa criança de adquirir o conhecimento em questão. Uma criança que não tem
essa oportunidade e responde corretamente no pós-teste não aprendeu, não
existiu aprendizagem, pois não houve uma oportunidade de aprender. Essa criança
pode ter ouvido a resposta em algum lugar ou pode ter recordado desse fato que
é previamente conhecido por ela (isso não é aprendizagem). “ Se tal
oportunidade não estiver presente, mas for detectado um aumento no conhecimento
do pré-teste ao pós-teste, não podemos atribuir tal mudança a aprendizagem. ”,
“ É mais provável que o pré-teste tenha falhado em nos dar uma estimativa
acurada de seu conhecimento real. ”
“ Uma criança
física ou psicologicamente imatura, uma criança que não tenha tido oportunidade
de adquirir conhecimento pré-requisito, ou uma criança cuja linguagem seja
diferente da do professor não é uma criança de que se espera que adquira a
habilidade ou conhecimento ensinado. Chamar tal criança de incapaz de aprender
é ignorar que a oportunidade de adquirir conhecimento ensinado não foi, de
fato, oferecida. ”
Distúrbios de
aprendizagem são associados a uma criança quando ela tem dificuldade em acompanhar
uma turma que é exposta a um método de ensino padrão. A partir do momento que
essa criança é inserida em um método de ensino que se adéqua a sua situação
(ensino especializado) ela ainda tem distúrbio de aprendizagem? Os professores
devem se adequar às crianças para ensiná-las. Quando dizemos que uma criança
tem distúrbio de aprendizagem estamos rotulando-a e isso não lhe trará nenhum
benefício. E ao fazer isso, desencadeia-se a profecia auto realizadora: uma
criança incapacitada de aprender não terá ajuda de um professor ‘porque ela tem
distúrbio de aprendizagem então não adiantará tentar ensiná-la’. “É sempre
muito fácil justificar a inabilidade do professor em ensinar uma criança
dizendo que a criança tem uma dificuldade de aprendizagem quando, em verdade, a
dificuldade não é da criança, mas do professor. ” Os professores, em situações
como esta, precisam aplicar outros métodos de ensino que não os convencionais
para promover oportunidades de adquirir conhecimento.
Testes de
inteligência dizem medir o nível de inteligência e relacionam isto a potencial
de aprendizagem. No entanto, potencial é algo futuro, o que uma criança é capaz
de aprender. Testes de inteligência não podem medir potencial, nada pode, eles
apenas observam a performance da criança em manifestar bem seus conhecimentos
passados, é um teste de desempenho. Pode-se inferir o potencial de uma criança,
mas isso pode não ajudá-la no ambiente escolar. Professores que têm em mente o
suposto potencial de um aluno agem diferente: se o potencial é alto,
esforçam-se mais; se o potencial é baixo, não há tanto esforço.
“ Uma criança que
tenha aprendido pouco no passado obterá um baixo escore em um teste de
inteligência e irá – sem mudança nos métodos de ensino – continuar a
aprender pouco no futuro. Há uma perigosa armadilha neste relacionamento entre
escore em teste e performance escolar, pois se um baixo escore em teste é
tomado em seu valor estrito como um preditor de realização escolar futura,
pode-se com alta probabilidade classificar a criança como incapaz de aprender
(devido à baixa inteligência) encaminhando-a assim a um ambiente acadêmico em
que pouco se espera dela. ”
O que uma criança
é capaz de aprender chama-se potencial. Aquilo que a criança realmente aprende
chama-se realização. Quando esta criança é submetida à um teste de inteligência
e seu escore é baixo (por ter aprendido pouco no passado), infere-se que seu
potencial é baixo acompanhado com um baixo nível de realização. “ [...] a
discrepância potencial-performance não será manifesta e a performance escolar
pobre poderia assim ser atribuída a baixa inteligência da criança e a
inabilidade real em aprender seria desconsiderada. Tal uso nada sofisticado de
um teste de inteligência resultaria em classificar muitas crianças como ‘burras’
quando na verdade elas são inábeis em aprender, o que pode ser superado pela
aplicação de métodos apropriados de ensino. ”
Enquanto mais rotulamos
crianças como incapazes de aprender e mais crianças assim são diagnosticadas com
distúrbios de aprendizagem e nada se faz para modificar essa situação,
pergunta-se se o “errado” é o método de aprendizagem padrão escolar ou as
crianças que não respondem positivamente a ele.